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Escureceu, lá fora e aqui dentro, o fogo que queima na lareira já não aquece mais, não tem café, minha coberta parece fina demais nessa noite, ouço o sussurro do vento na sala de estar, parece um forasteiro pronto para me fazer sofrer, a solidão é minha constante companheira, ela dói, ela está aqui nessa noite escura e fria e tempestuosa, cada vez mais perto de mim, seu hálito congela meu pescoço, eu sufoco um pouco antes de perceber que eu ainda respiro, estou parado perto da porta agora, não quero ficar sentado na mesma poltrona velha e gasta que eu tenho, preciso mudar, mas não consigo abandonar esse lugar, acho que tem um pedaço meu em tudo.

Agora o fogo se apagou, eu acendo a lamparina e o cheiro da querosene invade minhas narinas, fico um pouco tonto, como toda vez, mas eu insisto nesse jeito porque a energia custa demais e eu não quero esse gasto, combino com esse escuro, com essa solidão que ri da minha cara como se eu fosse um comediante, não sou, longe disso, eu sou apenas um ser só que caminha na escuridão de uma sala semi aquecida com um xale no corpo e uma lamparina nas mãos, um ser que ignora a existência e que custa a encontrar um caminho de luz.

Não consigo deitar, espero enquanto amanhece porque daí me sinto seguro, o barulho do vento cessa e os pisos não rangem tanto, daqui a pouco vem o sol, mas depois do sol tudo se repete, a única coisa fixa e que eu não consigo mudar é que a escuridão de dentro não termina, hoje foi apenas mais um dia nesse looping infinito que todos chamam de vida.