Olho no espelho e me enxergo diferente,não vejo a cor dos olhos,ou o tom da pele,eu vejo meu interior,vejo a bagunça que eu sou por dentro e a minha incessante vontade de disfarçar e me esconder.
Olho no espelho e não há mais sombras,somente o calor forte do meu eu queimando a visão,a mistura de ondas que meu cabelo faz prendendo em tudo e todos como um bote salva vidas,essa sou eu,a confusão de tudo que há por dentro.

Queria saber me expressar melhor,mas quando falo de mim fico sempre sem palavras,não quero me ver refletida no espelho a segurar pedras de defeitos meus,quero um caminho mais livre pra caminhar sem me preocupar em entender.

Porque hoje eu me olho no espelho e vejo aquela bandana preta e vermelha,vejo o batom forte pra combinar,mas também vejo a fragilidade que tudo isso representa,eu vejo a pessoa forte que morre de medo de mudar e deixar pessoas pra trás,eu vejo um sorriso gigante no meio de bochechas gigantes,mas também vejo as lágrimas secas no canto dos olhos que ninguém vê.

Eu me enxergo bem,mesmo sem óculos,mesmo com três graus e meio de miopia e sabe-se lá quanto de astigmatismo,eu vejo detalhes que de perto ninguém percebe,e de longe é pior ainda,tem gente que olha pra mim e só consegue ver o básico,uma garota de 20 anos com cabelo enrolado nas pontas,que adora uma boca vermelha e que está quase sempre dando risada de tudo,mas não é só isso,eu vejo mais.

Dentro dessa garota tem um coração partido,uma indecisão assustadoramente grande,um medo irremediável de não ser suficiente,dentro dela tem uma vontade de fazer dar certo,e uma inquietude de 220 volts que a faz balançar na cadeira do trabalho o dia todo,além é claro,de uma devoradora de livros de romance policial que raramente se controla quando encontra o livro certo.
Eu vejo ela ali quietinha no canto,me observando escrever sobre ela e sorrindo satisfeita "Essa é pele que eu habito" ela diz,e eu só consigo concordar.