Posso te sentir mesmo quando as luzes se apagam,quando o tudo se dissolve a nada e as angústias vibram como se em furacão,te sinto entre as vigas da parede e nos sussurros de cada madrugada de insônia;e nas histórias que permeiam os livros que leio e músicas que preenchem o vazio,morador cativo dessa vida.

Eu posso te sentir na névoa que embaça meus olhos e nas letras guardadas na minha memória;quando em fase de desaparecimento novamente surge e se enlaça nas minhas ideias,quando em silêncio percorre os cantos mais obscuros e secretos de mim.Te sinto nas folhas que caem no outono e nos tic-tacs do relógio antigo acima da lareira,nas gravuras antigas espalhadas pela sala e no relembrar que me habita.

Posso te sentir em cada sorriso apagado e nos cabides que se amontoam no guarda roupas solitário,em cada verso que eu memorizei inutilmente ao longo dos anos e na falta de coordenação que me aflige quase sempre,em cada suspirar tristonho e cortante e no café frio que esqueci sobre a bancada,em cada vão esforço de tentar esquecer e nas lágrimas contidas que o travesseiro secou.

Ainda posso te sentir em cada dúvida que corrói a minha mente e em cada sonho que pareceu ser real,e nas palavras estranhas que surgem na cabeça.Te sinto em cada perfume novo e em cada preguiça do início da manhã,no leve ranger do piso se assentando no verão e nas piadas sem graça que contam num dia qualquer.

Posso te sentir na camisa amassada que nem o ferro dá jeito e nas manias malucas que eu cultivei sei lá porquê,até mesmo te sinto nos ponteiros que giram a vida do avesso e desconstroem as pontes que antes eram tão sólidas,te sinto na fragilidade que emana de mim quando por vezes me isolo na intenção de te perder de mim,te sinto porque ainda está aqui,tão perto,mas tão longe.